Estar em Poxoréu é como estar no Paraíso. A vida toda foi assim e jamais deixará de ser.
Pela primeira vez na vida comemorei o dia das mães emocionada e feliz (perdi minha mãe ainda criança). A programação começou com a apresentação do Samba Pox, seguido do show espetacular do nosso conterrâneo e sua Banda Júlio Coutinho que abalou não só a estrutura da Praça da Liberdade como também corações embevecidos e emocionados.
Tantos amigos, tantas lembranças!! Não dancei, meu par não estava presente. Bem que tive muita vontade. Bateu uma saudade imensa do nosso tradicional Diamante Clube que logo em breve será inaugurado. Fiquei tremendamente feliz ao presenciar Antônio Carlos Filho conduzir sua mãe Urânia para a dança. Era tudo que precisava acontecer naquele instante. Foi uma noite deslumbrante, um frio daquele de gelar a alma, mas Diva muito solícita tratou de nos oferecer uma deliciosa caipirinha, aquela que só nós que herdamos o sangue quente de baiano sabemos preparar.
Estávamos eu, Mazá Coutinho, Selma Moraes e sua mamãe Lourdes que estava comemorando 81 anos, Selma do Jubal, Eva, Diva e Dorinha Corrêa, Sandra Sol podemos dizer assim: “A FINA FLOR DA PRAÇA DA LIBERDADE” todas deslumbradas com o grande acontecimento. E o tempo passou, não queria ir embora, mas o dever nos chamava. Fui para casa de Maria Sol para ajudar na organização da nossa tradicional Serenata das Mães, criada por nosso saudoso mestre Santana Sol nos idos de 1970.
Nossa incansável amiga às voltas com assados dos biscoitos de queijo não me deixou ajudá-la, porém não consegui fechar os olhos. Às quatro da manhã pontualmente saímos para a tão sonhada e desejada Serenata. Começamos pela Igreja. O Padre Alexandre havia externado o desejo de nos acompanhar. Que nada!! Não acordou mesmo ao som dos violões e nossas vozes entoando o nosso hino: Minha mãezinha querida. Que Pena!! Continuamos o nosso percurso em todo centro histórico de Poxoréu.
Algumas famílias nos receberam de portas abertas.
Nossa amiga Marli, figura destaque no Show da Banda Júlio Coutinho, mesmo assim conseguiu levantar e transformar nosso momento numa recepção calorosa. Todo ano ela repete esse ato de carinho. Seguimos para a casa de Lourdes onde além da homenagem das mães, cantamos parabéns comemorando seus 81 anos. Afinal ela merece, criou suas filhas com muita garra e muito amor. Duas preciosidades Selma e Sandra. Prosseguimos animadíssimas, mas o peso da idade nos cochichou: Pare, tempo esgotado!
Convidei Maria Sol que também já se encontrava exausta para ficar, para esperarmos a Serenata, isto bem na subida do Paraíba. Na esquina da Rua Mato Grosso sentamos na calçada do DAE para esperar a turma descer. E nada… Começamos a contar histórias e mais estórias, não sei porque me veio à mente a questão “amizade” e muito emocionada lembrei de uma grande decepção sofrida no passado relacionada ao tema.
O dia já clareando, e nós continuamos a tagarelar e relatei a Maria Sol em detalhes da minha grande frustração.
Quando me casei, voltei a morar em nossa residência na rua Bahia, local onde nasci. A casa grande aconchegante, propícia para festas e reuniões. Nos finais de semana, havia sempre uma galinhada, feita pelo Ênio ou uma moqueca pelo Badinho ou mesmo o tradicional churrasco. A família BB estava sempre reunida.
Numa dessas reuniões, minha amiga que eu denominaria de Ana se aproximou de mim e me fez a seguinte proposta: Lena, nos temos que passar três meses no Rio de Janeiro onde Pedro terá que fazer um curso. Você sabe os cuidados que temos com nossa cachorrinha Suzi e como sei que você adora animais, creio que não se importaria de cuidar dela para mim, durante os meses que estaremos ausentes. Eu prontamente aceitei a missão, afinal a esposa do Gerente me pedindo um grande favor!!
Realmente a Suzi era uma cadelinha mimosa, achei que não teria problemas. A surpresa veio logo a seguir: no quarto onde ela dormia, fez o maior estrago. Toda noite Suzi rasgava um lençol, hoje eu não me lembro quantos lençóis ela destruiu, mas foram vários. Desisti, deixei ela destruir o colchão. Que desastre, mas a mimosinha da Suzi era do nosso gerente. O que fazer? Tive que aguentar calada e esperar ansiosamente que os seus donos chegassem.
Quando os amigos chegaram devolvi a linda Suzi, cheirosa e com muita saudade dos seus donos. Não comentei sobre os lençóis e nem do colchão. Achei prudente não reclamar.
O dia clareando e eu a falar sem parar. Maria Sol atenta esperando o desfecho da história, não sei se ela estava a imaginar. Onde a Lena quer chegar?? Mas não disse nada. Só me ouvia atentamente. E eu continuei…
A vida voltou ao normal. Festas e mais festa. Cada dia nosso vínculo se tornava mais forte. A família BB crescia cada vez mais. Com a expansão da agência, chegavam mais funcionários e novos laços se concretizam. Um ou dois anos se passaram até o dia que nossos amigos partiram para estancias melhores. Foram transferidos. Ficou uma saudade imensa daquele casal que nos trouxe momentos marcantes. Dois anos depois comentei com Jurandir: por que nossos amigos nunca haviam mandado nenhuma notícia? Então sugeri a ele que fizéssemos uma visita surpresa aos nossos amigos. Preparamos a nossa viagem e seguimos em frente com nosso GT FORD, recém adquirido, para surpreendê-los.
Foram dois dias de viagem muito cansativos. Apenas nós e nosso filho Rômulo, com três aninhos. Expectativa de reencontrá-los era imensa. As horas corriam lentamente.
Ao entardecer vibramos de contentamento. Faltavam apenas alguns minutos. Chegamos e juntamente com nossos amigos, advinha minha amiga quem fez a maior festa? Claro que foi a Suzi. Ela tentava pular a grade para ficar conosco. Quanta alegria! Que emoção! Enfim, entramos e fomos bem recebidos. Ofereceram-nos um jantar delicioso e depois fomos jogar conversa fora. Lembrar de Poxoréu, da nossa vidinha rodeada de amigos.
De repente veio a minha mente a pergunta que não quer calar: minha amiga, por favor me fale, já se passaram dois anos que vocês deixaram Poxoréu e nunca tivemos notícias de vocês. Por quê? Ela me olhou bem nos olhos e disse de vagar e pausadamente: Nós estabelecemos um padrão de vida que cada vez que ocorresse uma transferência, nos
esqueceríamos de tudo e de todos. Colocaríamos uma pedra em cima.
O meu mundo desabou. Entrei em choque, perdi a vontade de falar. Entrei em pânico. Foi uma decepção desmedida. Neste momento eu só pensava na Suzi, aquela cachorrinha que me dera tanto trabalho foi a que externou toda a sua alegria ao nos ver chegar. Quem diria Maria Sol? Fiz o mesmo que eles: coloquei uma pedra em cima. Não sei nem mesmo onde andam, nem se ainda estão vivos.
A lição foi dura. Não perdi a fé na amizade, hoje tenho centenas de amigos pelo Brasil a fora, e este é o motivo de estarmos aqui sentadas, nesta calçada, curtindo esta madrugada fria e relembrando um passado tão distante, porque esta amizade transmitida em forma de Serenata das Mães é um ato de amor e amizade.
O dia clareou e nada da Serenata, resolvemos ir para a casa da Maria Sol onde aguardamos a chegada dos participantes com um café da manhã repleto de iguarias, do pão de queijo à fatia Húngara. Que delicia!! As
mães participantes felizes com o sorteio dos prêmios, organizados para aquele momento tão especial: Dia das mães!!
Poxoréu é o paraíso, onde aprendemos que o verdadeiro valor de uma amizade está na confiança, sinceridade, compreensão, dedicação e principalmente no respeito humano.
Cristo nos ensinou que a amizade é tão importante que o próprio Jesus se apresentou como amigo: “já não vos chamo de servos, a vós chameivos de amigos”. João 15:15
Amigos verdadeiros são irmãos de alma.
LENA GLORIA VARANDA VENTRESQUI GUEDES
CUIABÁ, JUNHO 2022
Rua Mato Grosso, nº 432
Bairro Centro
CEP 78800-000 - Poxoréu - MT
Segunda à Sexta-feira
08h às 11h e das 13h às 17h